
[in 'O Dia em Que Te Esqueci' -Margarida Rebelo Pinto]
A persistência é o caminho do êxito...
" Os teus lábios estavam secos. Sabias a pastilha elástica. Pousaste a minha cabeça no teu peito e olhas para o relógio.
ELE - Estás preocupada com a hora?
ELA - Não. Até porque prefiro estar assim, aqui.
ELE - Não queres ir embora é?
ELA - É. Tenho medo de ir e que o amor que me dás todas as noites, acabe.
ELE - Se não te quisesse tanto, era incapaz de te dar prazer, de qualquer forma. Ou a mimar-te, ou a beijar-te…
ELA - Tu sabes o que dizer, na hora certa. Sabes disso?
ELE - Sei.
ELA- E o quanto eu sou tua... Sabes? Eu acho que não.
ELE - Então, fica mais esta noite, como em todas as outras, para - te - tentar descobrir.
ELA - Se te deixasse durante uma noite, eras capaz de vir atrás de mim?
Puxas o edredon, para cima. Prendes-me ainda mais contra o teu peito.
ELE - Não, não vais a lado nenhum. Ficas aqui.
ELA - Há tantas que te desejam, e sou eu a única que te tenho?
ELE - Não quero mais ninguém. Bastam-me os teus olhos, as tuas mãos, o cheiro do teu cabelo, os teus lábios. Por seres tão difícil de encontrar, guardo-te para mim. "
"...Não sei o que procuro em ti, nem de que forma pretendo que me trates. Não aprecio cobranças nem exigências, mas também não tolero um desapego constante. Gostava que me desses mais atenção, que a nossa relação não se resumisse a divertidas investidas sexuais. Como no dia em que (não sei se cumprindo um fetiche teu, se meu), mesmo à porta de minha casa, me pediste para te ligar, disponível para satisfazeres os meus desejos e as minhas ordens.
Com o teu aconchego, a chegada do frio do Outono tornou-se mais suave. Gostava de acordar ao teu lado, quando antes preferia que cada um acabasse na sua cama, com medo da monotonia que fatalmente acaba por se instalar. Talvez nunca me tenham cativado o suficiente para que me fosse indiferente a estação do ano. Ou nunca tenha permitido que me cativassem. Consigo ser estranhamente racional até nas minhas emoções.
(...) É mais forte do que a inteligência, o carácter, a personalidade, o bom-humor, a família, é mais forte do que eu. Vagueio entre corpos perfeitos, agilidade e criatividade. Criei defesas para que ninguém entrasse em mim, mesmo que despertasse os meus sentidos. Esmoreço facilmente quando encontro alguma desmotivação e não compreendo uma relação sustentada por carinho e companheirismo.
Não preciso de partilhar a minha vida, de encontrar ou esperar alguém em casa, quando chego. E sei que o não sinto porque, ao meu lado, nunca houve quem ouvisse o meu silêncio e se sentisse confortável, me agarrasse as mãos e me prendesse. Alguém com quem eu aprendesse a amar.
E, no entanto, tenho medo de não saber o caminho de regresso, de me perder tão longe que não me volte a encontrar."
[In "Amar demais" de Rita Matos]